Estoicismo não é autoajuda – Uma introdução ao estoicismo imperial romano

 

Revista Sísifo. N°15, Vol. Único 2022. ISSN 2359-3121. www.revistasisifo.com

 

 


 Domínio Público
 

Unidentified engraver - Baumeister, Denkmäler des klassischen Altertums, 1885. Band I., pag. 483.

 





 
 
 

Tauami Sales de Paula.

Mestrando em Filosofia pelo Programa de Pós–graduação em Filosofia (PPGFil) da

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar.



Resumo: Diante da moda contemporânea que atribui ao estoicismo coisas que lhe seriam completamente aversivas, é urgente que o tema seja tratado de forma a não deixar espaço para distorções. Sendo assim, o seguinte artigo será de caráter introdutório e mostrará o incontornável aspecto ético do estoicismo imperial romano, tal como foi pensando por Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, sem que as particularidades do pensamento de cada um desses autores sejam aprofundadas. Apresentaremos conceitos–chave para a mínima compreensão dessa filosofia. Iniciaremos falando sobre a importância da prática no pensamento estoico imperial romano e como ela se relaciona com a Natureza. Em seguida, mostraremos como a razão está em conformidade com a natureza humana, qual relação tem com a sabedoria e como é fundamental considerar o outro na ética estoica. Por fim, faremos algumas considerações.

Palavras-chave: Filosofia Antiga, Estoicismo Imperial, Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio.


Abstract: Faced with contemporary fashion that attributes to stoicism things that would be completely aversive to it, it is urgent that the topic be treated in a way that leaves no room for distortions. Therefore, the following article will have an introductory nature and will show the unavoidable ethical aspect of Roman imperial stoicism, as it was thought by Seneca, Epictetus and Marcus Aurelius. We will present key concepts for a minimal understanding of this philosophy. Starting by presenting the importance of practice in roman imperial stoicism and how it relates to Nature. Then, we will show how reason conforms to human nature, what relationship it has with wisdom and how it is fundamental to consider the other in stoic ethics. Finally, we will make some remarks.

Keywords: Ancient philosophy, Imperial stoicism, Seneca, Epictetus, Marco Aurelio.











  1. Introdução


É impossível, para aqueles que têm o mínimo contato com a realidade, não olharem para os quatro últimos anos da história brasileira sem que o mínimo de desespero desperte em nós. A pandemia do novo Coronavírus (COVID–19), no ano de 2022, soma mais de cinco milhões de vítimas em todo o mundo1, sendo que mais de seiscentas mil dessas vidas foram ceifadas em nossas terras2. Vivenciamos uma escalada vertiginosa do desemprego, tendo alcançado em 2020 seu pior momento nos últimos oito anos3. Soma–se a isso o aumento da evasão escolar nos níveis mais básicos da educação4 e o recorde de mortes realizadas pelas polícias Civil e Militar5. Como se não bastasse, grupos extremistas, em sua maioria neonazistas, encontraram espaço para articularem sua monstruosa ideologia, se expandindo nas terras tupiniquins em mais de 270% desde janeiro de 20196. Logo no Brasil! Onde sempre é dito que não existem preconceitos!


Nesse cenário de isolamento e desolação não é surpresa nenhuma que um dos gêneros literários mais vendidos desde o início da pandemia tenha sido o da autoajuda7. Esse estilo ousado e de difícil caracterização promete aos seus leitores a realização plena de seus objetivos, desde que assumam para si a total responsabilidade por seu sucesso e ignorem por completo a complexidade de problemas sociais e políticos em que estão inseridos8. Além disso, seus autores mostram–se completamente incapazes de qualquer tipo de inovação e se apropriam de conteúdos de todas as áreas do conhecimento de maneira descarada e premeditada9

Incompetentes como são, eles avançam em direção a Filosofia – aquela mesma, eterna amiga da sabedoria! e descobrem no estoicismo imperial romano um banquete de se comer de joelhos. Ainda que esse fenômeno pareça ocorrer internacionalmente, uma rápida procura em buscadores virtuais mostra inúmeros sites brasileiros que afirmam que Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio ensinam um autocontrole estéril, capaz de nos transformar em solitárias máquinas apáticas e implacáveis de produção.

Os discípulos mais arrojados desse pseudoestoicismo aventuram–se as mídias audiovisuais, produzindo vídeos sobre o tema. Á frente de belas paisagens naturais ou de escritórios com prateleiras repletas de livros de capa dura, esses destemidos exploradores do pensamento, que com curiosa frequência se denominam “empreendedores de si”, “biohackers” e “coachs de autodesenvolvimento”, ofertam dez (número que parece ter poderes mágicos) ou menos valiosíssimas lições estoicas sempre em forma de enxertos deslocados da completude da filosofia em que estão inseridos. Eles prometem a “vida do guerreiro” aos que se comprometerem, de maneira inabalável, a plena insensibilidade aos acontecimentos do mundo.


Sites que praticam um vil revisionismo da história recente do Brasil, dotado de um escancarado interesse político, chafurdam na ignorância de seus leitores e usam do que chamam de estoicismo para beneficiar delirantes narrativas de suas realidades paralelas. A deformidade com que a filosofia estoica tem sido abordada é tamanha que até mesmo aplicativos criados para facilitarem a especulação de moedas digitais chamadas criptomoedas têm recebido o nome de estoicos.

Diante dessa abominável deturpação e simplificação do pensamento estoico, não podemos permanecer indiferentes, não podemos nos permitir o fado da eternidade empoeirada das bibliotecas catedráticas. A intelectualidade, quando alheia aos efeitos das questões que emergem no presente de nossa sociedade e, por consequência, de nossas próprias vidas, se torna, como Roberto Gomes argumenta brilhantemente, meramente razão ornamental (2001, p. 69–80).

Acreditando que é fundamental dar acesso ao maior número possível de leitores, o seguinte artigo será de caráter introdutório e mostrará a incontornável parte ética do estoicismo imperial romano, tal como foi pensando por Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, sem que aspectos particulares do pensamento de cada um desses autores sejam abordados. Apresentaremos conceitos–chave para a mínima compreensão dessa filosofia. Iniciaremos falando sobre a importância da prática no pensamento estoico imperial romano e como ela se relaciona com a Natureza. Em seguida, mostraremos como a razão está em conformidade com a natureza humana, qual relação que isso tem com a sabedoria e como é fundamental considerar o outro na ética estoica. Por fim, faremos algumas considerações.

  

  1. Prática e Natureza


Embora a filosofia estoica seja originaria da Grécia, suas fontes mais acessíveis para o leitor contemporâneo vêm do período do Alto Império Romano. Vindos de lá, os representantes dessa filosofia que estão marcados imaginário popular são: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio10. Por esse motivo, é sobre eles que falaremos11.

Um dos aspectos do pensamento estoico que parecem gerar uma grande atração ao leitor moderno é a importância que ele dá a prática. Essa filosofia dá predileção ao desenvolvimento de sua parte ética e física mesmo tendo Epicteto dado importância ao estudo da lógica12 , sendo o entendimento da física uma serva incondicional do desenvolvimento ético. A ética da filosofia estoica está diretamente atrelada à prática de seus ensinamentos, sendo impossível dissociar a teoria das ações.

Sêneca, ainda que tenha escrito amplos tratados filósofos e obras que versam desde o comportamento da natureza até tragédias, condensa a profundidade de seu pensamento através de epístolas; cartas que trazem recomendações aos seus interlocutores, buscando causar neles uma modificação em sua disposição interior que possibilite o surgimento de novas práticas condizentes com a moral estoica. Posicionando–se diametralmente contra quaisquer estudos que não possibilitam o desenvolvimento moral e o um maior entendimento sobre a natureza13, ele diz:


Seja qual for o valor dos meus escritos, lê–os como obra de um homem em busca da verdade, não detentor dela, mas em busca contínua e tenaz. Não alienei os meus direitos a favor de ninguém, não tenho gravado o nome de nenhum proprietário. Confio, e muito, no pensamento dos grandes homens, mas reivindico o meu direito próprio de pensar. De resto eles não nos legaram verdades acabadas, mas sim sujeitas à investigação; e porventura teriam descoberto o essencial se não tivessem investigado também temas supérfluos. Mas gastaram tempo imenso em jogos de palavras, em discussões capciosas que aguçam inutilmente o engenho. Construímos argumentos tortuosos, empregamos termos de significação ambígua, finalmente desatamos toda a trama! Temos assim tanto tempo livre? Já sabemos como encarar a vida e a morte? O que devemos procurar, com todas as forças, é o modo de nos não deixarmos enganar pelas coisas, e não pelas palavras” (CARTAS A LUCÍLIO, Livro V, Epístola 45, 4–5).


Nas recomendações feitas para Lucílio, fica ainda mais evidente a importância da prática e o caráter prescritivo do pensamento senequiano.


Faz assim, meu caro Lucílio: toma posse de ti mesmo, e o tempo que até aqui ou te era roubado ou surrupiado ou se perdia, reúne e preserva. Convence–te de que é como eu te escrevo: uma fração do tempo é arrancada de nós, outra fração nos é subtraída, outra se esvai. Contudo, o desperdício mais vergonhoso é que ocorre por negligência. E, se notares bem, grande parte da vida escapa aos que fazem pouco, a maior parte, aos que nada fazem e a vida inteira, aos que fazem o que não importa” (ibidem, Livro I, Epístola 1, 1).


Observamos no Manual de Epicteto o mesmo direcionamento para a prática.


Quando te dispões a realizar alguma ação, recorda–te qual é a natureza dessa ação. Se estás saindo para tomar um banho, antecipa mentalmente o que acontece numa sala de banhos, ou seja, indivíduos jogam água em ti, indivíduos que esbarram em ti, indivíduos que te insultam, indivíduos que te roubam. E assim tu irás executar tua ação com maior segurança se disseres de imediato: ‘Quero tomar banho e também conservar a vontade em harmonia com a natureza’. Igualmente no que toca a todas as ações. Com efeito, por via de consequência se durante o banho acontecer de te veres diante de algum obstáculo, estarás pronto para dizer: ‘Toda eu não queria somente isso, mas também conservar minha vontade em harmonia com a natureza; mas não a conservaria se me aborrecesse com os acontecimentos' “ (MANUAL, IV).


Dito de outro modo, é preciso que exista uma reflexão prévia antes de cada ação que deve ser tomada, levando em consideração todos os efeitos que tal ação poderá gerar. Com isso, aquele que assim o faz torna–se capaz de manter–se em harmonia com sua própria natureza. Age–se, através da reflexão, para depois pôr em prática aquilo que deve ser feito. Vejamos outras passagens do autor sobre a necessidade da reflexão, enquanto prática, sobre as ações.


Em cada ação considera os antecedentes e os consequentes para só então realizá–la. Se assim não agires, darás início a ela com entusiasmo, uma vez que nunca pensastes em nenhuma de suas consequências; contido, mais tarde, ao surgirem algumas dificuldades, tu desistirás desonrosamente" (ibidem, XXIX).


Quando ages após haveres decido que deves agir, nunca te esquives na tentativa de ocultar dos olhos alheios a tua ação, ainda que a maioria das pessoas venha provavelmente a considerar desfavoravelmente a tua ação. Mas se efetivamente o que fazer não é correto esquiva–te da própria ação; se, porém é correto, por que temer aqueles que não estão corretos na sua desaprovação?” (ibidem, XXXIV).


Mais fascinante ainda é o caso das Meditações de Marco Aurélio. Como bem nos lembra Pierre Hadot (2002), essa obra é um testemunho vivo da disposição do imperador romano em retornar constantemente para os dogmas fundamentais do estoicismo, de modo a jamais esquecer como ele deve guiar suas ações (2002, p. 135). Ao escrever para si mesmo sobre quais teriam sido a lições mais preciosas que lhe foram passadas14, ele diz;


De Rústico, recebi a ideia da necessidade de uma conduta correta e do cuidado para o aprimoramento moral; [aprendi a] não desviar para o ardor retórico sofístico, não escrever obras de caráter especulativo, não proferir discursos maliciosos que atraem a atenção nem produzir uma exibição que impressiona a imaginação no feitio dos atletas ou no do homem beneficente; e ele me fez ficar longe da retórica, da poética e do discurso elegante e afetado (...)” (MEDITAÇÕES, Livro I, 7).


Ainda sobre a importância de se manter a atenção direcionada para suas práticas e para a abnegação dos estudos que delas se distanciam, afirma:


No que toca a tua sede por livros, apressa–te em repudiá–la para que não venhas a morrer de murmúrios e resmungos, mas sim de uma maneira propícia e audiência agradecendo de coração aos deuses” (ibidem, Livro II, 3).


Voltemo–nos mais uma vez ao que fala Hadot. Ele nos dirá que o estoicismo é um exercício. Para que se seja filósofo estoico é preciso ter domínio de uma arte de viver, de um estilo de vida determinado, capaz de englobar toda a existência. “O ato filosófico não se situa somente na ordem do conhecimento, mas na ordem do “eu” e do ser: é um progresso que nos faz ser mais, que nos torna melhores” (HADOT, 2002, p. 22). Nesse sentido, a filosofia estoica é capaz de modificar profundamente a maneira de ser e de agir do indivíduo, livrando–o do sofrimento inerentemente contido em uma vida de excessos.

O estoicismo, ainda segundo Hadot, compreende que a infelicidade humana é fruto de uma busca incessante em manter bens que podem ou não ser mantidos e por tentar evitar males que são inevitáveis. Dessa forma, é papel da educação filosófica estoica libertar o sujeito, possibilitando que ele seja capaz de identificar quais são os bens que podem ser obtidos e os males que podem ser evitados. Então, quais seriam esses bens e esses males? O bem moral e o mal moral (ibidem, p. 23). Falaremos sobre os bens e os males morais à frente.

Diante da inquestionabilidade da prática e do desenvolvimento da moral do indivíduo enquanto elementos centrais da filosofia estoica, somos capazes de avistar, ao longe, um grito que se forma retumbante no peito dos mais afoitos: Ora! Se sigo a minha moral, seja lá ela qual for, tudo posso e tudo devo praticar para alcançar a minha própria felicidade! A esses leitores, almas desejosas por respostas rápidas, pedimos que tomem fôlego. A filosofia estoica (vejam só!) não se limite apenas a isso e nos indica, com incisiva precisão, de que modo devemos nos desenvolver moralmente.

Para que seja possível ao indivíduo que assume o estoicismo diferenciar entre aquilo que está sob seu controle e aquilo que não está, ou seja, entre os bens alcançáveis e os males evitáveis, é preciso que exista uma inversão completa na maneira como comumente a realidade é encarada (HADOT, 2002, p. 23). A visão “humana” das coisas, que é profundamente influenciada pelas paixões, deve ser substituída por uma visão “natural”, que parte da perspectiva universal para avaliar aquilo que está acontecendo no mundo (ibidem). Por essa razão, nos cabe agora compreender o que é essa natureza que serve de sustentáculo para a ampliação daquilo que enxergamos.

Bezerra (2008) afirma que é possível identificar na obra senequiana duas perspectivas sobre o que é a natureza. Na primeira, está o entendimento dela enquanto física, sendo passível de explicações racionais, pautadas na relação de causa e efeito. Sobre isso, nada temos a dizer. O segundo modo, que mais nos interessa, assume que a natureza é “(...) uma totalidade constitutiva de ordem, uma razão (ratio) e, acima de tudo, significa enxergar a natureza como modelo de perfeição e equilíbrio” (BEZERRA, 2008, p. 2, grifo do autor). Dito de outro modo, a Natureza15, dotada de suprema Razão, é um exemplo de perfeita aplicação de ordem e de sentido.

O estoicismo entende que a Natureza é dotada de sua própria Razão, um Logos Divino16, perfeita em tudo aquilo que executa. Ao entender que na Natureza não existem quaisquer falhas e que aquilo que dela vem é necessariamente bem, é possível ao indivíduo se harmonizar com essa condição divina e aos acontecimentos do mundo, fazendo com que suas ações sejam as mais justas.

Nessa perspectiva, tudo aquilo que acontece conosco estará de acordo com aquilo que quer a Natureza. Vida, morte, doenças, acidentes. Tudo é conforme quer a Natureza, conforme quer o Destino. Nossos autores deixam isso claro nas seguintes passagens:


Deve ter consciência de que tudo o que acontece não pode deixar de acontecer, em vez de se atrever a censurar a natureza. A melhor atitude a tomar é a de aceitar o que não podemos alterar, e conformamo–nos sem resmungar com os desígnios da divindade que rege o curso do universo: mau soldado é aquele que segue o seu general sempre a queixar–se! Por conseguinte aceitemos pressurosos e animados as suas ordens, não queiramos fugir ao curso desta máquina deslumbrante na qual estão entretecidos também os nossos sofrimentos” (SÊNECA, CARTAS A LUCÍLIO, Livro XVII, Epístola 107, 9–10, grifos nossos).


Quando a Zéfiro parecer bom, ó melhor dos humanos, ou a Éolo. Pois Deus não te fez intendente dos ventos, mas Éolo. Que fazer então? Usar da melhor maneira as coisas que estão sob nosso encargo e, quanto às outras, devemos nos servir delas como são por natureza

E como são por natureza?

Como Deus as quer” (EPICTETO, DIATRIBES DE EPICTETO, Livro I, 1.1 16–17, grifo nosso)17


As obras dos deuses estão repletas de Providência. Mesmo os acontecimentos ditados pela sorte ou pelo acaso estão na dependência da natureza, a trama e o entrelaçamento deles são administrados pela Providência divina. Todas as coisas fluem daí; seja lá o que aconteça é tanto necessário como útil à ordem universal, da qual és parte” (MARCO AURÉLIO, MEDITAÇÕES, Livro II, 3, grifo nosso).


Realmente, apenas se atém às suas funções e ao que lhe diz respeito, e seu pensamento está ininterruptamente ligado ao lote do universo que lhe cabe dentro da trama tecida pelo destino; cumpre suas funções honrosamente e está persuadido de que as coisas ditadas pelo destino são boas” (ibidem Livro III, 4, grifo nosso).


Isso não quer dizer que os humanos sejam apenas folhas atiradas aos ventos do Destino. Realmente, a Natureza age de maneira necessária e imutável. Entretanto, sendo os humanos capazes de compreender e agir em suas próprias relações, consigo e com os outros, e com o mundo a sua volta, eles se tornam passíveis de serem responsabilizados por seus atos.

Para iluminar as sombras que insistem em encobrir o acesso a nossas palavras, nos daremos a liberdade de usar como exemplo um sujeito hipotético, claramente intransponível para a nossa realidade, que se recusa a tomar uma vacina para uma doença pandêmica18. Ainda que um vírus mortal esteja matando inúmeras pessoas ao redor do mundo e seja garantido em seu país o pleno acesso às vacinas que ajudam na prevenção do contágio e das fatalidades, esse sujeito, crítico ferrenho do isolamento social e do uso de máscaras de proteção, por agredirem sua sensível respiração, não cede aos apelos que lhe são feitos para ir se vacinar, dizendo que se ele está destinado a pegar a doença e morrer, isso irá acontecer estando ele vacinado ou não. Todavia, devido certas leis que o obrigam a se vacinar para poder continuar trabalhando, vistas por ele como absurdos totalitários, ele assim o faz. Poucos dias depois, esse sujeito, agora minimamente protegido, começa a ter febre e tosses secas. A doença também o acometeu. Apesar dos dias de cama e o braço dolorido, ele atravessa esse infortúnio com certa tranquilidade. Mesmo recuperado, esse indivíduo insiste em dizer que a vacina e os meios de prevenir que a doença se alastre não têm importância e que ele sobreviveria de qualquer maneira, assim como poderiam sobreviver todos os demais, uma vez que era esse o desejo do Destino.

Um estoico responderia a ele que o seu erro está em achar que a cura faz parte do Destino, negligenciando por completo a proteção dada pelos imunizantes contidos na vacina. Ele peca por não ser capaz de compreender a diferença entre aquilo que não está sob o seu controle e aquilo que está, negando a importância de direcionar todos os esforços para essa última. Acreditamos que no entendimento dos estoicos o Destino só estaria envolvido no caso desse sujeito falecer mesmo tendo todas as condições de sobrevivência garantidas durante o período de isolamento e tomado todas as doses imunizantes. Estando a vacina disponível para esse sujeito e sendo ela a melhor maneira de prevenir que ele venha a óbito em caso de contaminação, caberá a ele decidir quais serão seus próximos passos, considerando também o reflexo que isso terá nas outras pessoas, sem culpabilizar o Destino por suas escolhas

  1. Conformidade à razão, sabedoria e ética


O que definitivamente falta ao personagem de nosso exemplo para que consiga diferenciar sob quais circunstância ele deve agir é o preceito estoico de que é necessário que vivamos conforme nossa própria natureza. Vejamos a seguinte passagem:


Mas para finalizar a carta, aceita o que me agradou no dia de hoje, também colhido em jardim alheio: ‘É uma grande riqueza a pobreza em harmonia com a lei da natureza’. Ora, sabes quais os limites a lei da natureza nos impõem? Não passar fome, nem sede, nem frio. Para que afastes a fome e a sede, não é necessário acomodar–se à soleira dos soberbos, nem aguentar seu cenho franzido e mesmo sua ultrajante cortesia; não é necessário arriscar–se nos mares, nem seguir tropas. O que a natureza requer está disponível e ao alcance” (SÊNECA, CARTAS A LUCÍLIO, Livro I Epístola 4, 10)



Vemos em Marco Aurélio o mesmo entendimento, quando ele nos diz que “O que é interiormente soberano, quando em conformidade com a natureza, é atingido de tal forma pelos acontecimentos que é sempre fácil ajustar–se, na medida do possível, aos acontecimentos que são oferecidos (...)” (MEDITAÇÕES, Livro IV, 1, grifo nosso). Seguindo da mesma maneira, Epicteto falará:


O corpo de cada um constitui a medida para o que ele deve possuir, tal como o pé em relação ao calçado. Portanto, se adotarmos esse padrão, manterás a medida; se, porém, fores além dele, será inevitável que acabes por seres arrastado para um precipício. Também no que toca ao calçado, uma vez que vais além da medida do pé, começarás por adquirir um calçado ornado de outro, depois de púrpura, depois bordado. Com efeito, uma vez que se tenha excedido a medida, não há limite” (MANUAL, XXXIX)


Aqui, os três autores lançam mão de um princípio de extrema importância para o estoicismo. É preciso que se viva de acordo com a própria natureza, sendo para isso necessário se abdicar dos excessos que perpassam a vida humana. O pensamento estoico, quando volta seus olhos aos demais animais dispostos na natureza, enxerga o pleno exercício daquilo que deve ser. Um cachorro não busca ser qualquer outra coisa senão um cachorro, da mesma maneira que um elefante não tenta se tornar uma girafa. Todos eles têm em si o que é preciso para serem o que devem ser. O ser humano, por outro lado, quando se deixa levar unicamente por suas paixões, cai em excesso e abdica de realizar sua própria natureza. Seguindo o que dado pela Natureza, o ser humano, para realizar tudo aquilo que é e encontrar nisso a felicidade, deve compreender quais são as necessidades que lhe são próprias e agir de modo a realizá–la. Para que não haja dúvidas sobre esse ponto, vamos novamente a Sêneca:


O nosso objectivo é, primacialmente, viver de acordo com a natureza. Ora é antinatural tortura o próprio corpo, repelir os cuidados elementares de higiene, procurar a sujidade e tomar alimentos não apenas humildes mas repugnantes, repelentes. Assim como é luxo e gula só desejar iguarias sofisticadas, assim também é loucura evitar as habituais que se conseguem sem grande dispêndio. A filosofia exige frugalidade, não suplícios, e a frugalidade não necessita ser desordenada. Há um meio termo que eu preconizo: que a nossa vida seja um equilíbrio entre o modo de vida superior e o vulgar; que todos olhem a nossa vida como, algo acima do normal, mas sem que sejamos estranhos para eles” (CARTAS A LUCÍLIO, Livro I, Epístola 5, 4–5, grifo nosso).


Se cabe ao estoico viver de acordo com a própria natureza, dominando os vícios que lhe são apresentados no decorrer da vida, será apenas através do uso daquilo que é próprio a natureza humana fazê–lo. E o que seria esse elemento tão singular que torna os humanos únicos? Segundo o estoicismo, ser capaz de utilizar a razão e, através dela, reconhecer o bem da totalidade de sua espécie como necessária. Essas são as únicas características das quais a humanidade goza exclusivamente. Todos os demais atributos que acreditamos ser sui generis de nossa espécie podem ser verificadas em outros animais. 

Os seres humanos são eternamente atravessados por suas paixões. Buscando saciá–las, corremos em direção daquilo que achamos apropriado; quando temos fome, procuraremos comida, quando ameaçados, fugiremos do que nos amedronta. A partir de um certo ponto do crescimento humano, a razão também começa a fazer parte de nossa constituição .Entendemos que a razão estoica é a capacidade inerentemente humana, originada e espelhada da Razão da própria Natureza, de avaliar os acontecimentos e seus efeitos, de modo objetivo e subjetivo, e de discernir, dentre eles, entre o bem moral e o mal moral19. Quando capazes de organizar suas existências através de sua própria natureza, ou seja, através do pleno uso da razão, os seres humanos se tornam capazes de organizar as paixões que sentem e reagir da melhor maneira possível, sempre visando o maior bem moral. As coisas moralmente boas e as coisas moralmente ruins, assim são definidas a partir da possibilidade que elas dão para que se tenha uma vida justa e virtuosa20, que, por consequência, está em acordo com nossa natureza. Sendo assim, apenas através do uso da razão pode o ser humano realizar aquilo que é bom e realizar aquilo que é bom é a única maneira do ser humano realizar aquilo que é.

A vida virtuosa é a única, que guiada pelo reto uso da razão, busca e alcança a felicidade. Aquele que é virtuoso entende que deve solicitar da Natureza apenas aquilo que é necessário, distanciando–se de tudo o que for excessivo. Quando age, sempre o faz de modo refletido, enxergando suas ações e os efeitos que dela se originam como constituintes do Todo em que vive. O estoico entende que a única maneira alcançar essa de plenitude é através da constante atenção as paixões, com a harmonização com sua própria natureza e com o Cosmos que habita. Aqueles capazes de viver essa plenitude em todos os momentos de sua vida, bastando para eles sua própria natureza, são chamados pelos estoicos de sábios. Esses serão o máximo exemplo de virtuosidade. Se tornar sábio e agir com sabedoria é a única coisa que o estoico almeja em sua vida. É justamente para se aproximar o máximo possível desse objetivo que o estoicismo prega que a razão deve estar sempre pronta para combater o arrebate das paixões, geradas por seus impulsos. O sábio sempre age com justiça e sempre está em pleno controle daquilo que sente e daquilo que faz, pois “O sábio basta–se a si mesmo” (SÊNECA, CARTAS A LUCÍLIO, Livro I, Epístola 9, 13).


Talvez aqui resida a semente que deu vida a fábula amplamente disseminada do estoico enquanto um sujeito insensível e inabalável. Entendamos: os próprios estoicos compreendiam que não é possível a nenhum humano alcançar tal estado de perfeição. Em vários momentos, eles nos falam sobre a necessidade de manter a mente sempre tensa diante da possibilidade de que, a qualquer momento, algum impulso os pudesse influenciar21. Inclusive, Hadot (2002) nos dirá que a atenção “(...) é a atitude espiritual fundamental do estoico. É uma vigilância e uma presença de espírito contínuas, uma consciência de si sempre desperta, uma tensão constante do espírito” (2002, p. 25). Com ela, tornamo–nos capazes de estar sempre atentos aos movimentos de nossas paixões, escolhendo o modo justo de agir (ibidem, p. 26). Uma vez que jamais estará livre de ser atiçado por suas paixões, o estoico deve ter para si um modelo capaz de fazê–lo retomar ao caminho da virtude sempre que dele se perder; esse modelo será o sábio. A sabedoria estoica não usa da razão como ferramenta para se apartar de seus sentimentos e do mundo. Ela reconhece que estamos sempre suscetíveis as nossas próprias paixões e escolhe utilizar a razão para superá–los, buscando agir da maneira mais harmoniosa e virtuosa com a Natureza e com todos os de nossa própria espécie.

Aquele que busca o justo uso da razão, reconhece que todos devem ser tratados como se fossem aparentados, tirando de si quaisquer tensões que a forcem ao egoísmo ou ao altruísmo (LONG, 2013, p. 200). Se a razão é capaz de reconhecer a si mesma como uma manifestação singular de sua própria natureza, e também reconhece que essa natureza está em perfeita harmonia com aquilo que quer a Natureza, não mais é possível negar que todos os que são dotados de razão, façam dela bom uso ou não, são idênticos entre si e a própria Natureza. Isso fica explícito com o que nos diz Marco Aurélio.


Se a inteligência nos é comum, a razão que nos estabelece na qualidade de racionais é comum; se é assim, também a razão determina o que deve ser feito ou o que não deve ser feito é comum; se é assim também a lei é comum; se é assim, somos concidadãos; se é assim, participamos de alguma administração dos negócios que são comuns; se é assim, o mundo é de algum modo como uma cidade–Estado. Afinal, de qual outra administração comum estávamos facultados a dizer que a totalidade do gênero humano participa. É em decorrência dela, dessa cidade–estado comum, que nos chega a própria inteligência, o racional e o legal” (MEDITAÇÕES, IV, 4)


Long (2013) afirma que Epicteto compreende que o egoísmo é um aspecto tão forte da condição humana que não há possibilidade do bem moral prosperar sem que levemos em consideração o outro. Sêneca vai ainda mais longe, dizendo que “O homem foi criado para o auxílio mútuo” (Sobre a ira, Livro I, 5–2). O estoicismo indica que a humanidade apenas realiza plenamente sua natureza quando reconhece que todos de sua espécie são iguais e age para que possam todos se apoiar mutuamente. Se assim for, todos os indivíduos, dentro de suas próprias circunstâncias e de suas próprias singularidades, serão capazes de realizar plenamente suas próprias naturezas. Esse é um aspecto incontornável do pensamento estoico que não dá espaço a interpretações que justificam a indiferença com o outro.

Na esperança de sanar as últimas dúvidas que possam ter ficado, repassaremos alguns conceitos que foram apresentados antes de avançarmos para nossas considerações finais. A filosofia estoica é uma filosofia da prática. Todos os nossos esforços devem ser direcionados para que tenhamos uma vida feliz e todos os estudos que não estejam em conformidade com esse objetivo devem ser evitados. Sendo assim, a filosofia estoica é um exercício de transformação do sujeito que a prática, possibilitando a ele se libertar de uma vida de excessos, e se aproximar do bem moral e se distanciar dos males evitáveis.

Essa transformação faz com que o indivíduo adote uma nova visão sobre o mundo, passando a entender a Natureza e tudo aquilo que por ela é realizado como perfeito. A Natureza é dotada de uma suprema Razão, sendo incapaz de exercer qualquer tipo de malefício. Tudo aquilo que é conforme a sua vontade é bom. Por esse motivo, os seres humanos devem querer ser conforme suas próprias naturezas para poder exercer aquilo que é bom e alcançar a felicidade. Apenas o exercício da razão humana e o reconhecimento do bem necessário para todos os de sua espécie são condições essencialmente humanas. Buscando sempre exercer a razão para guiar a sua existência, o estoico tem como exemplo o sábio aquele que sempre está usando a razão plenamente, tendo total controle daquilo que faz e daquilo que sente. O sábio serve como um exemplo de conduta e não é uma condição alcançável para os seres humanos.

Ao usar a razão corretamente, o indivíduo compreende que todos aqueles que também possuem a razão em sua natureza, seja ela usada ou não, são aparentados entre si, ainda que tenham singularidades em suas histórias de vida. Essa compreensão implica na necessidade de mútuo apoio entre todos da espécie humana, sendo essa uma necessidade para que o bem moral seja alcançado e a vida virtuosa atingida.


  1. Considerações finais


Com tudo o que foi dito até aqui, gostaríamos de deixar algumas questões para nossos leitores. Vamos nos lembrar da atual situação do país, descrita no primeiro parágrafo desse artigo. Diante de tantas desgraças, o que poderia o estoicismo nos oferecer? Se entendermos que tudo foi conforme quer a Natureza, não temos absolutamente nada a fazer. Por outro lado, ao lembrarmos do fator humano contido nesses acontecimentos, torna–se impossível afirmar que eles eram inevitáveis. Se os indivíduos que estão no poder sabiam quais deviam ser as ações tomadas para minimizar as mortes causadas pela pandemia, eles agiram moralmente bem ou mal ao ignorá–las? Se existem recursos econômicos suficientes nos cofres públicos para manter o bom funcionamento da saúde pública, reduzir o impacto do aumento do desemprego e ajudar na redução da evasão escolar, eles agiram moralmente bem ou mal ao priorizarem outras questões? Se é possível a criação de leis mais severas para policiais que abusam do poder de seus uniformes e para indivíduos que discursam a favor do neonazismo, eles agem moralmente bem ou mal ao fingir que isso não é um problema?

Afirmamos, mais uma vez, que aquilo que vem sendo disseminado como filosofia estoica não passa de uma abominável distorção de seus preceitos originais. Não existe uma vírgula sequer nos escritos dos pensadores estoicos que dê ensejo aos que negam suas obrigações éticas, priorizando essa estranha espécie de individualismo economicista. O estoicismo não é uma dezena de frases de efeito pretensiosas que justificam o sofrimento causado por atrozes políticas de extermínio e não pode servir de desculpa para o acomodamento e para inércia.

Para concluir (e nos munindo de consciente pretensão), entendemos que os responsáveis pelo alastramento dessa deturpação o fazem ou por não terem entendido os conceitos fundamentais do estoicismo ou por desonestidade própria. Aos primeiros, nos cabe um genuíno pedido de desculpas. Tentando fazer mais bem do que mal, é provável que tenhamos sido infelizes em muitos momentos de nossa exposição, devido às nossas próprias limitações de escrita e a complexidade do tema. Mesmo assim, esperamos que nossas linhas sirvam como introdução e aticem a curiosidade sobre o assunto. Para os últimos, desejamos que o completo esquecimento daquilo que vocês fazem esteja de acordo com o que quer o Destino.


Referências Bibliográficas

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1 WORLD HEALTH ORGANIZATION, WHO Coronavirus (COVID–19) Dashboard, disponível em: https://covid19.who.int/. Acesso em: 23/02/2022 às 11:26.

2 MINISTÉRIO DA SAÚDE, Painel Coronavírus, disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 23/02/2022 às 11:26.

3 ALVARENGA, Darlan, Brasil tem a 4° maior taxa de desemprego do mundo, aponta ranking com 44 países. Portal G1, 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/11/22/brasil–tem–a–4a–maior–taxa–de–desemprego–do–mundo–aponta–ranking–com–44–paises.ghtml. Acesso em: 23/02/2022 às 11:33.

4 EVASÃO escolar de crianças e adolescentes aumenta 171% na pandemia, diz estudo. Portal G1, 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/12/02/evasao–escolar–de–criancas–e–adolescente–aumenta–171percent–na–pandemia–diz–estudo.ghtml. Acesso em: 23/02/2022 às 11:36.

5 ACAYABA, Cíntia, REIS, Thiago. N° de mortos pela polícia em 2020 no Brasil bate recorde: 50 cidades concentram mais da metade dos óbitos, revela Anuário. Portal G1, 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao–paulo/noticia/2021/07/15/no–de–mortos–pela–policia–em–2020–no–brasil–bate–recorde–50–cidades–concentram–mais–da–metade–dos–obitos–revela–anuario.ghtml. Acesso em: 23/02/2022 às 11:39.

6 GRUPOS neonazistas crescem em 270% no Brasil em 3 anos; estudiosos temem que presença online transborde para ataques violentos. Portal G1, 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2022/01/16/grupos–neonazistas–crescem–270percent–no–brasil–em–3–anos–estudiosos–temem–que–presenca–online–transborde–para–ataques–violentos.ghtml. Acesso em: 23/02/2022 às 11:42.

7 MERCADO de livros de autoajuda e religiosos cresce em 2021. Porta Terra, 2022. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/mercado–de–livros–de–autoajuda–e–religiosos–cresce–em2021,63df3a51f36a2aa1859d26d48a4e35e2tuo5tjrh.html#:~:text=A%20venda%20de%20livros%20aumentou,Nacional%20dos%20Editores%20de%20Livros.&text=Hoje%20a%20plataforma%20representa%2027,t%C3%ADtulos%20de%20autoajuda%20e%20religiosos. Acesso em: 23/02/2022 às 11:46.

8 “Dentro das culturas de autodesenvolvimento, os valores do mundo competitivo do mercado têm sido transplantados para o mundo pessoal da vida íntima e vice–versa” (MCGEE, 2005, p. 177, tradução nossa).

9 “Na verdade, uma das características gerais da literatura de autoajuda é a sua quase completa falta de inovação, juntamente com a tendência de seus autores de pegar livremente emprestado o trabalho de outros sem fazerem atribuições. (...) Enquanto alguns aplaudem esse tipo de abordagem “livre” – por preservar uma tradição de bens intelectuais e culturais comuns, cada vez mais inacessíveis pela expansão das leis de direitos autorias – a falta generalizada de inovação desses literatos sugere ou uma falta ingenuidade ou uma falta de desenvoltura” (ibidem, p. 247, tradução nossa).

10 Apesar de não estar dentro do escopo de nossa proposta tratar sobre o assunto, é salutar que existem outros importantes pensadores estoicos desse período. Para citar alguns, Musonius Rufus, Ário e Hiérocles. Ver: LONG, A. A., 2013, A ética: continuidade e inovações, in. GOURINAT, J.–B, BARNES, J. (orgs,), Ler os estoicos. 1. ed., São Paulo: Edições Loyola, 2013, p. 197–221.

11 Advertimos ao leitor que, daqui em diante, quando nos referirmos ao estoicismo, estaremos falando sobre pensamento de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio.

12 Sobre a importância dada por Epicteto ao estudo da lógica, ver: EPICTETO, Diatribes, livro I, 1.17, 1–29.

13 Sobre a atenção dada por Sêneca aos estudos da natureza, ver: FOUCAULT, M., Aula de 17 de fevereiro de 1982 – Primeira e segunda hora. In. FOUCAULT, M., A hermenêutica do sujeito, 3 ed., São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010, p. 221–259. BEZERRA, C.C., Natureza e liberdade no pensamento senequiano, Ágora Filosófica, Campinas, Ano 2, n. 1, jan./jun. 2008, p. 1–35.

14 A prática da escrita de si deve ser entendida enquanto uma meditação; ação fundamental para o estoicismo. Outras práticas basilares do estoicismo são: leitura, audição, pesquisa, o exame de si, o domínio de si, a realização dos deveres e a indiferença às coisas indiferentes. Ver: HADOT, Pierre, Parte I – Exercícios Espirituais, in., HADOT, Pierre, Exercícios espirituais e filosofia antiga, 1 ed., São Paulo, Editora É Realizações, 2014, p. 19–91.

15 Daqui em diante, iremos nos referir a Natureza ao nos referirmos ao Todo, ao Cosmos e natureza ao falarmos sobre o que desrespeita a humanidade. Isso também valerá para o termo Destino.

16 Aqui não devemos confundir com o Logos platônico. Embora tanto o platonismo quanto o estoicismo entendam que o Mundo está unificado por uma inteligência, Platão assume uma visão dualista – mundo sensível e mundo das ideias –, enquanto o estoicismo entende que existe apenas um único mundo para o qual todas as ações devem ser direcionadas. Esse aspecto do pensamento platônico fica excepcionalmente claro no Livro VII de A República.

17 Sobre o uso do termo Deus, trazemos uma nota de Aldo Dinuncci (2020), contida em sua tradução do livro I da Diatribes de Epicteto: ““Deuses”, “Deus” e “Zeus” ocorrem como sinônimos em Epicteto. Referem–se ao princípio cósmico que determina o fluxo de todas as coisas, sendo, por isso, também o destino (heimarmene); o princípio material de tudo o que existe (pois os estoicos não concebem nenhuma realidade senão a corpórea); o que confere aos seres vivos as habilidades que necessitam para sobreviver, sendo, por isso, também a providência (pronoia); e o conjunto das leis da Natureza, a Razão Universal (logos)” (DINUNCCI, 2002, in. EPICTETO, Diatribes de Epicteto, livro I, p. 46, nota 147).

18 Estamos adaptando o chamado Argumento do Preguiçoso, escrito por Cícero, em De fato, 28–29.

19 Essa conceitualização parte das seguintes definições:  Em Epicteto, a razão é “Um sistema constituído de representações de certa qualidade” (Diatribe de Epicteto, livro I, 1.20, 5), sendo a sua função “(...) usar corretamente as representações” (Diatribes de Epicteto, livro I, 1.20, 4). Sêneca dirá que “(...) a razão outra coisa não é senão uma parcela do espírito divino inserida no corpo do homem” (Cartas a Lucílio, Livro VII, Epístola, 66, 13) e “A razão é que é, portanto, o supremo juiz do bem e do mal; a razão considera sem valor tudo quanto lhe é alheio e exterior, e àquelas coisas que em si mesmas não são bens nem são males julga–as como acessórios sem a mínima importância, pois para a razão todo o bem está situado na alma” (ibidem, Livro VII, 66, 35). Marco Aurélio, devedor de Epicteto, dirá que “A razão e a lógica são faculdades que bastam a si mesmas e as operações que lhe dizem respeito. Seu movimento parte de um princípio que é delas característico; movem–se em uma rota rumo ao fim que lhes é proposto” (Meditações, Livro V, 14).

20 Ver: Sêneca, Cartas a Lucílio, Livro IX, Epístola 15–16. Epicteto, Diatribes de Epicteto, livro I, 1.7, 1–2.

21 Ver: Sêneca, Cartas a Lucílio, Livro III, Epístola, 22, 3, Livro VI, Epístola 56, 5–6, Livro VIII, Epístola 73, 3–4. Epicteto, MANUAL, XXI. Marco Aurélio, MEDITAÇÕES, Livro VII, 58.

 
 
 
 
 
 
 

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